quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O "nOssO" GuaíBa

O Guaíba era riO até a década de 90, quando passou a ser denominado LagO. Cantado e homenageado poeticamente, ele tem um dos pôres-de-sol mais bonitos do mundo. Dia desses, na inauguração do Barrashopping Sul, uma rede de tevê gravou enquete com o público presente. Todos exaltaram as qualidades do novo centro de compras. Uma delas, na opinião de uma senhora, era "a espetacular vista para o "nosso" Guaíba". Sem dúvida um panorama de encher os olhos...mas com o detalhe que a cidadã esqueceu de mencionar: a admiração era platônica, bem de longe por trás das vidraças...já que o "nosso" Guaíba exala o odor da "nossa" poluição. Eu ainda completaria a frase: "O nosso Guaíba, que envenenamos dia apos dia, o nosso Guaíba que apodrecemos com as imundícies dos que se alienaram da natureza ao ponto de contaminar a própria água de beber".
As reminiscências me vieram quando passava hoje de manhã pelo riacho Ipiranga, irmão menor de tristezas mas nem por isso menos maltratado, já visto como esgoto, para o desgosto da garça que aparece nas fotos. Extática, me fez creditar a ela uma perplexidade, uma estupefação "animal" pelo tão imerecido destino do raro elemento que nos mantém vivos.


Sinara Sandri

Enquanto isso, na linha de fogo, os participantes do Fórum Mundial da Água, organizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) no Japão, e os ativistas que participaram dos Fóruns Sociais da Água em quatro continentes. Eles estão em lados opostos na disputa pelo controle dos recursos hídricos.

Se o controle de reservas de petróleo é motivo para a destruição do Iraque, a hipótese de grandes disputas pelo domínio dos mananciais e de um mercado bilionário de prestação de serviços não parece tão irreal. No caso da água, o teatro de operações incluiria os países com grande disponibilidade de água e colocaria o Brasil na alça de mira de interessados na exploração destas reservas.

“Hoje a disputa internacional é por petróleo, em alguns anos, será pelo domínio dos recursos hídricos”, resumiu Leonardo Morelli, coordenador do Fórum Social das Águas da América do Sul, realizado em Cotia (SP), de 16 a 23 de março.

A previsão poderia soar alarmista, mas também pareceu preocupar os participantes do Fórum Mundial das Águas, realizado no mesmo período, em Kyoto (Japão). A escassez de água já era apontada como causa de guerras nos documentos preparatórios à 2a Conferência sobre Assentamentos Humanos da ONU (Habitat 2), realizada em Istambul (Turquia), em 1996.

Já existem 1,2 bilhões de pessoas sem acesso à água de boa qualidade e 2,4 bilhões de humanos sem saneamento básico. Todos estão preocupados, mas há divergências quanto às medidas a serem adotadas e muitas propostas da chamada cúpula das águas são consideradas pelos ambientalistas como uma tentativa de privatização dos serviços de abastecimento.

De um lado, os organismos internacionais defendem a necessidade de considerar a água como uma mercadoria com valor econômico e a necessidade de investimentos privados para enfrentar a crescente escassez. Do outro, os movimentos sociais reforçam a necessidade de controle público dos mananciais e entendem que a água é um direito fundamental do ser humano.

Uso e poluição

A agricultura recebe 70 por cento de toda a água consumida no planeta. As lavouras irrigadas ocupam um quinto da área cultivada e recebem 15 % da água de uso agrícola. O setor industrial utiliza 22% e o uso doméstico é responsável por 8% deste consumo. Nos países pobres, a agricultura chega a consumir 82% da água e a indústria leva 59% da água em nações ricas.

Além do uso intenso e das perdas no sistema de abastecimento e irrigação, a atividade humana deixa pegadas e produz diariamente 1.500 quilômetros cúbicos de águas contaminadas por resíduos industriais, químicos, humanos e agrícolas.

Cada litro de água poluída inutiliza oito litros de água doce.

(Jornal Extra Classe/POA)


Um comentário:

R disse...

Falcatroas do sistema capitalista. Uma das.
Será que o presente era o futuro que as gerações passadas tanto sonhavam???

O pior de tudo é que as pessoas, em si, são medíocres e não querem aceitar que a água está se esgotando. Várias vezes eu tento dizer isso a amigos e familiares mas eles simplesmente ignoram. Não sei se por serem burros alienados ou por darem prioridade à lavagem de seus veículos auto-motores super-poluentes e suas calçadas fétidass e mesquinhas! Acredito nas campanhas de conscientização... só não acredito na capacidade das pessoas de se conscientizarem.

Parabéns mais uma vez pelo blog. :)